Estou na Educação há 20 anos. Atuei em escolas
públicas, particulares, anos iniciais e finais do ensino fundamental,
ensino médio, ensino superior, especialização... Já estive em todos esses níveis de
ensino e hoje trabalho nas redes municipal e estadual. Pensar a Educação, seus
descaminhos, do lugar em que me encontro não é tranquilo. Pelo contrário, sou
professora da rede pública, mas meus filhos sempre estudaram em escolas
particulares. Quando algum aluno me pergunta ‘você tem filhos, professora, onde
eles estudam?’ a resposta vem baixinho, como se eu não pudesse revelar essa
contradição... Se você me perguntar se acredito na Educação que meus filhos
recebem, direi que sim, que tem valido a pena o investimento. Mas a questão não
é essa, o que me traz aqui não é a Educação que meus filhos recebem, o que me
coloca em conflito hoje é a Educação que tenho oferecido aos filhos que não são
os meus.
Repensando a minha trajetória e os motivos que me
trouxeram para essa profissão, vejo que ainda criança eu me via professora.
Cresci imaginando esse futuro para mim. Filha de professora, minha vida desde
sempre esteve inserida nesse universo. Não caí de para-quedas, foi a minha
escolha.
Fiz faculdade, cursos de pós-graduação foram três,
até chegar ao mestrado. Sempre gostei de estudar, buscar caminhos, repensar
ações...
Estudei em escola pública, me formei em escola
pública, fiz pós-graduação e mestrado em universidades públicas. Não posso
fechar os olhos diante do que vejo hoje acontecer no espaço em que me fiz.
Quando falo de Educação, não me refiro em especial a escola onde trabalho, falo
do sistema, dessa engrenagem da qual sou apenas uma peça. Uma peça que como
tantas outras tem que girar para a direção que a máquina ditar. Ditar...
São tantos os rangidos, mas a máquina continua
girando, girando, untada pelas propagandas em horário nobre que vão ao ar
mostrando atores que interpretam brilhantemente seu papel.
Enquanto isso, nossos alunos são tratados como
números, estatísticas, resultados numa
linha de produção...
Sei que os tempos são outros, sei que a falha do
Estado como provedor não é só na área da Educação, mas também sei que é por
aqui que passa a maior parte dos filhos que não são os meus, mas que também são
de minha responsabilidade, e que já estão chegando ao mercado de trabalho. Estão
na Saúde, na Educação, na Política... São filhos da Educação que tenho
oferecido...
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